Após o fim dos Beatles,
sua carreira parecia ter explodido. Grava "All Things Must Pass", que
seria um sucesso de crítica e vendas, mesmo sendo um álbum triplo. No ano seguinte, Harrison realiza o primeiro show beneficente
da história do Rock, que rendeu outro álbum triplo, o "Concert For The
People of Bangla Desh". Para um Beatle quieto, sua conscientização
político-social falou bem alto e todos nós ouvimos o clamor.
Seus discos seguintes são emersos em filosofia e religiosidade, o que de
um lado, demonstra sua coragem em não temer se expor, porém na prática,
acabam por cansar o grande público. Ao mesmo tempo, manteve a admiração
de muitos dos fãs que viam inalterada a imagem do eterno Beatle
místico. Contribui com doações para diversas obras de caridade, tudo em
silêncio através de sua fundação, a Material World Charitable
Foundation, inaugurada em abril de 1973. Com o fim da Apple, fundou a
Dark Horse Records, cuja distribuição foi selada por um contrato confuso
com a A&M, imediatamente seguido por outro com a Warner. Consegue
dois álbuns expressivos, "33 & 1/3" de 1976 e o auto intitulado
"George Harrison" de 1979, seguidos por outros dois fracassos (apesar de
conseguir em 1982 emplacar o hit "All Those Years Ago").
Harrison então opta por deixar sua carreira musical de lado, reservando
então parte da década de oitenta para se dedicar ao cinema. Fundou uma
produtora, a Hand Made Films, cujo catálogo inclui películas como "Life
of Brian"
(com o grupo Monty Python, onde Harrison também fez uma ponta), "Mona Lisa"
(com Bob Hoskins) e "Shanghai Sunrise"
(com Sean Penn e Madonna).
Em 1987, voltaria suas atenções para um novo disco. Nasce o "Cloud
Nine", último disco solo do artista a marcar as paradas de sucesso do
mundo inteiro, com as músicas "Got My Mind Set On You" e "When We Was
Fab", esta, uma última e derradeira olhada para sua carreira como um
Beatle. O álbum também conta com a participação do seu ex-colega de
banda, Ringo Starr.
Precisando de um lado B para "This is Life", que sairia em compacto,
descobre que não tem nada disponível. Em Los Angeles, almoçando com Roy
Orbison e Jeff Lynn, convida os dois para ajudá-lo a gravar algo
rapidamente, ao que Lynn sugere que utilizem o estúdio de Bob Dylan.
Harrison, ao buscar um violão acústico na casa de Tom Petty, acaba
convidando-o para que o acompanhasse até o estúdio, onde Dylan acabaria
também sendo intimado a participar
do quinteto. Harrison se divertiu tanto com a experiência que instigou
todos a gravarem um LP, e assim, bem ao acaso, nasce The Traveling
Wilburys, onde no melhor estilo Ramones, todos os integrantes do grupo se tornam membros de uma suposta família Wilbury. George Harrison é Nelson Wilbury, Roy Orbison é Lefty, Bob Dylan
torna-se Lucky, e Tom Petty ganha o nome de Charlie T. Wilbury. O álbum
lançado em 1988 oferecia ainda todo um texto sobre a história da
família Wilbury escrito por Hugh Hampton E. F. Norti-Blitz, que na
verdade é ninguém menos do que Michael Palin, um dos lendários
comediantes do grupo Monty Pyton, que Harrison tanto adimirava. Os
Traveling Wilburys dariam a Harrison a chance de voltar a saborear a
velha sensação de estar em uma banda, sem o risco da crítica estragar a brincadeira fazendo comparações indesejáveis com os Beatles
.Infelizmente Roy
Orbison viria a falecer pouco depois, tendo a banda feito apenas mais um
álbum de despedida, curiosamente chamado "Vol.3". Encerrada esta fase,
Harrison se tornou um recluso, aparecendo muito pouco publicamente
durante a década de 90. Só voltou a ser notícia quando Paul McCartney o
procurou para trabalharem na biografia dos Beatles, que veio a ser
chamada "Anthology" e compreende cinco vídeos, três CD duplos e um livro gigantesco de 367 páginas.
Harrison teria sido diagnosticado com câncer quando foi encontrado um
caroço em sua garganta, em 1997. Em agosto daquele mesmo ano, passa por
uma cirurgia e segue tratamento no Royal Marsden Hospital perto de
Londres. Passa então a monitorar sua saúde com maior atenção,
periodicamente indo para o Mayo Clinic em Minnesota para um checkup. Em
janeiro de 1998, os médicos concluíram que o cancer não mostrava mais
nenhum sinal de retorno. Só ouviríamos novamente falar de Harrison após o
ano novo que celebrava o novo milênio, quando soubemos que ele fora
esfaqueado por um fã (oh, raça!), apunhalado diversas vezes, atingindo
um de seus pulmões. Harrison lentamente se recuperou do atentado contra
sua vida, porém em março deste ano, os médicos descobriram que ele era
portador de câncer no pulmão. Em maio, George
entra na faca
novamente no Mayo Clinic, onde perde metade de seu pulmão. Embora
inicialmente a operação tenha sido encarada como um sucesso, em semanas,
o câncer ressurge novamente, desta vez no seu cérebro.
Harrison tenta então um tratamento com cobalto no prestigioso Sainta
Giovanni Hospital em Bellinzona, Suíça. Em outubro, enquanto ainda se
recuperava do tratamento, gravou uma composição sua e do filho chamado
"Horse To The Water" com o repórter e músico Jools Holland. A canção é
uma despedida e, com usual humor negro, creditada ao RIP Ltda 2001. Com a
saúde cada vez mais precária, sentido dores homéricas, tenta um último
tratamento com radiação localizada administrado pelo Dr. Gil Lederman da
University Hospital de Staten Island. O tratamento serviu apenas para
aliviar as cólicas e lhe permitir que seus últimos momentos fossem sem a
aflição da dor.
Enquanto hospitalizado, ele foi visitado pelos amigos Paul McCartney e
Ringo Starr, que encontram um George Harrison magro, fisicamente
abatido, porém soltando inúmeras piadas. Emocionado, conta-se que levou
Paul McCartney a ter uma pequena crise de choro, coisa incomum para os
ingleses, que são por natureza meio
"frios" emocionalmente
falando. George Harrison deixou Staten Island dia 7 de novembro, indo
então para Los Angeles, onde se hospedou na casa de Gavin de Becker,
antigo chefe de segurança e amigo da família. Aparentemente suas últimas
palavras foram
"Tudo mais pode esperar, todavia a procura de Deus não pode" e "amai-vos uns aos outros"...
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