quarta-feira, 8 de maio de 2013

Depois Do Fim - George Harrison

Após o fim dos Beatles, sua carreira parecia ter explodido. Grava "All Things Must Pass", que seria um sucesso de crítica e vendas, mesmo sendo um álbum triplo. No ano seguinte, Harrison realiza o primeiro show beneficente da história do Rock, que rendeu outro álbum triplo, o "Concert For The People of Bangla Desh". Para um Beatle quieto, sua conscientização político-social falou bem alto e todos nós ouvimos o clamor.

 Seus discos seguintes são emersos em filosofia e religiosidade, o que de um lado, demonstra sua coragem em não temer se expor, porém na prática, acabam por cansar o grande público. Ao mesmo tempo, manteve a admiração de muitos dos fãs que viam inalterada a imagem do eterno Beatle místico. Contribui com doações para diversas obras de caridade, tudo em silêncio através de sua fundação, a Material World Charitable Foundation, inaugurada em abril de 1973. Com o fim da Apple, fundou a Dark Horse Records, cuja distribuição foi selada por um contrato confuso com a A&M, imediatamente seguido por outro com a Warner. Consegue dois álbuns expressivos, "33 & 1/3" de 1976 e o auto intitulado "George Harrison" de 1979, seguidos por outros dois fracassos (apesar de conseguir em 1982 emplacar o hit "All Those Years Ago").

Harrison então opta por deixar sua carreira musical de lado, reservando então parte da década de oitenta para se dedicar ao cinema. Fundou uma produtora, a Hand Made Films, cujo catálogo inclui películas como "Life of Brian" (com o grupo Monty Python, onde Harrison também fez uma ponta), "Mona Lisa" (com Bob Hoskins) e "Shanghai Sunrise" (com Sean Penn e Madonna). Em 1987, voltaria suas atenções para um novo disco. Nasce o "Cloud Nine", último disco solo do artista a marcar as paradas de sucesso do mundo inteiro, com as músicas "Got My Mind Set On You" e "When We Was Fab", esta, uma última e derradeira olhada para sua carreira como um Beatle. O álbum também conta com a participação do seu ex-colega de banda, Ringo Starr.

Precisando de um lado B para "This is Life", que sairia em compacto, descobre que não tem nada disponível. Em Los Angeles, almoçando com Roy Orbison e Jeff Lynn, convida os dois para ajudá-lo a gravar algo rapidamente, ao que Lynn sugere que utilizem o estúdio de Bob Dylan. Harrison, ao buscar um violão acústico na casa de Tom Petty, acaba convidando-o para que o acompanhasse até o estúdio, onde Dylan acabaria também sendo intimado a participar do quinteto. Harrison se divertiu tanto com a experiência que instigou todos a gravarem um LP, e assim, bem ao acaso, nasce The Traveling Wilburys, onde no melhor estilo Ramones, todos os integrantes do grupo se tornam membros de uma suposta família Wilbury. George Harrison é Nelson Wilbury, Roy Orbison é Lefty, Bob Dylan  torna-se Lucky, e Tom Petty ganha o nome de Charlie T. Wilbury. O álbum lançado em 1988 oferecia ainda todo um texto sobre a história da família Wilbury escrito por Hugh Hampton E. F. Norti-Blitz, que na verdade é ninguém menos do que Michael Palin, um dos lendários comediantes do grupo Monty Pyton, que Harrison tanto adimirava. Os Traveling Wilburys dariam a Harrison a chance de voltar a saborear a velha sensação de estar em uma banda, sem o risco da crítica estragar a brincadeira fazendo comparações indesejáveis com os Beatles
 
.Infelizmente Roy Orbison viria a falecer pouco depois, tendo a banda feito apenas mais um álbum de despedida, curiosamente chamado "Vol.3". Encerrada esta fase, Harrison se tornou um recluso, aparecendo muito pouco publicamente durante a década de 90. Só voltou a ser notícia quando Paul McCartney o procurou para trabalharem na biografia dos Beatles, que veio a ser chamada "Anthology" e compreende cinco vídeos, três CD duplos e um livro gigantesco de 367 páginas. 
 
 Harrison teria sido diagnosticado com câncer quando foi encontrado um caroço em sua garganta, em 1997. Em agosto daquele mesmo ano, passa por uma cirurgia e segue tratamento no Royal Marsden Hospital perto de Londres. Passa então a monitorar sua saúde com maior atenção, periodicamente indo para o Mayo Clinic em Minnesota para um checkup. Em janeiro de 1998, os médicos concluíram que o cancer não mostrava mais nenhum sinal de retorno. Só ouviríamos novamente falar de Harrison após o ano novo que celebrava o novo milênio, quando soubemos que ele fora esfaqueado por um fã (oh, raça!), apunhalado diversas vezes, atingindo um de seus pulmões. Harrison lentamente se recuperou do atentado contra sua vida, porém em março deste ano, os médicos descobriram que ele era portador de câncer no pulmão. Em maio, George entra na faca novamente no Mayo Clinic, onde perde metade de seu pulmão. Embora inicialmente a operação tenha sido encarada como um sucesso, em semanas, o câncer ressurge novamente, desta vez no seu cérebro.

Harrison tenta então um tratamento com cobalto no prestigioso Sainta Giovanni Hospital em Bellinzona, Suíça. Em outubro, enquanto ainda se recuperava do tratamento, gravou uma composição sua e do filho chamado "Horse To The Water" com o repórter e músico Jools Holland. A canção é uma despedida e, com usual humor negro, creditada ao RIP Ltda 2001. Com a saúde cada vez mais precária, sentido dores homéricas, tenta um último tratamento com radiação localizada administrado pelo Dr. Gil Lederman da University Hospital de Staten Island. O tratamento serviu apenas para aliviar as cólicas e lhe permitir que seus últimos momentos fossem sem a aflição da dor.

Enquanto hospitalizado, ele foi visitado pelos amigos Paul McCartney e Ringo Starr, que encontram um George Harrison magro, fisicamente abatido, porém soltando inúmeras piadas. Emocionado, conta-se que levou Paul McCartney a ter uma pequena crise de choro, coisa incomum para os ingleses, que são por natureza meio "frios" emocionalmente falando. George Harrison deixou Staten Island dia 7 de novembro, indo então para Los Angeles, onde se hospedou na casa de Gavin de Becker, antigo chefe de segurança e amigo da família. Aparentemente suas últimas palavras foram "Tudo mais pode esperar, todavia a procura de Deus não pode" e "amai-vos uns aos outros"...



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