Ringo Starr era naturamente bem-humorado. Não se tratava de
representar um papel. É verdade que, as vezes, exagerava, mas
seu tipo físico, o nariz grande e a fixação por anéis facilitavam
o estereótipo. John era o líder, Paul o bonitinho, George o caladão
e ele Ringo, o palhaço.
Ninguém sequer imaginaria classificá-lo como esquisito, mas suas
maneiras pareciam transmitir um instinto de proteção em muitas
fãs.Sua expressão às vezes melancólica, durante os shows, lhe
concedia a aura do "palhaço mais triste do circo", uma espécie de
Buster Keaton da música jovem.
Na interpretação mística da Beatlemania, John era o Fogo, Paul
o Ar, Ringo a Terra e George era a Água, elemento que denota
sonho, imaginação e muita vida interior.
De fato, ele sempre foi o mais introspectivo dos Beatles. Nos
primeiros tempos, preocupava-se mais em aperfeiçoar seu
virtuosismo na guitarra do que em aparecer. Apesar do talento,
foi o último a se destacar numa carreira solo. Contribuía com uma
ou duas músicas em cada disco do grupo, já que Lennon e McCartney monopolizavam as composições. A partir de 1966,
começou a compor com mais intensidade, no início ligado a
temas românticos, como John e Paul, depois escolhendo o
misticismo como matéria-prima.
As biografias mais recentes sobre os Beatles revelam seu lado
mulherengo, o que teria sido um dos motivos da separação de
Pattie Boyd.
O rosto bonito de Paul McCartney ajudou a criar uma personalidade auto-suficiente e, as vezes, até egocêntrica. Mas
parece que a necessidade de uma autoconfiança surgiu quando
Paul perdeu a mãe, que sustentava a família. Ganhou uma guitarra
e sua obsessão pela música tomou conta do resto. Achou que John
Lennon tocava guitarra "como banjo", quando entrou para os
Quarrymen e colaborou bastante para expulsar Stu Sutcliffle do
grupo, por considerá-lo ruim demais.
Musicalmente, foi o romântico do grupo. Escreveu as mais belas
baladas ("Yesterday", "Let It Be", "The Long And Winding Road")
e tomou o caminho inverso de John em seus últimos discos-solo,
tornou-se político e pacifista, ao contrário de Lennon caseiro e
romântico dos últimos tempos.
Na época áurea, Paul era considerado o mais diplomata do grupo;
Tony Barrow, que fazia parte do staff publicitário dos Beatles,
chegou a dizer que "ele poderia ter tido uma brilhante carreira
como relações-públicas. Tem charme e muito tino comercial".
John Lennon foi considerado, certa vez, o QI mais alto dos Beatles.
Nada foi comprovado, mas o fato é que ele, foi o mais polêmico
dos qiatro, a partir do instante em que começou a mostrar sua
personalidade. As letras menos convencionais dos Beatles ("Strawberry Fields Forever", "I Am The Walrus" ou "Happiness
Is A Warm Gun") saíram de sua cabeça.
A imprensa o considerava o líder do grupo, por suas posições contestadoras. Mas o mundo saberia, mais tarde, que a agressividade e o cinismo mascaravam uma sensibilidade fora do
comum. Apesar da mudança que se operou no interior de John, nos
últimos anos de vida, ele manteve sempre intacta a sua integridade
e a consciência da hipocrisia do mundo que o cercava.
