domingo, 17 de março de 2013

1969: The End






O último show ao vivo dos Beatles aconteceu nos céus de Londres.
Foi ouvido por poucos e visto por quase ninguém. No dia 30 de
janeiro, uma quinta-feira gélida, eles subiram com os instrumentos
para a cobertura do prédio da Apple em Saville Row, Ringo relutou
e só na última hora concordou em participar. Com Billy Preston
nos teclados, eles começaram  a tocar num tablado montado sobre
a cobertura, enfrentando ventania debaixo de um céu cinzento. A
brincadeira durou 42 minutos e terminou com a intervenção da
polícia. Aquele show  ao vivo fake fazia parte de um filme sobre
os Beatles chamado "Get Back" (ao ser lançado, em maio de 1970,
intitulou-se "Let It Be").

A idéia de um "Get Back", uma volta às raizes, partiu de Paul, no
começo de janeiro. As feridas das gravações do "Àlbum Branco"
ainda não haviam cicatrizado. Paul pensou que os Beatles só
tinham sido unidos quando cantavam e tocavam para um público
partipante. Surgiu daí o projeto de um especial para a tv que seria
gravado durante um concerto ao vivo, em algum lugar exótico.
Pensou-se num moinho abandonado às margens do Tâmisa, num
palco montado no meio do deserto do Saara ou a bordo de um 
navio no meio do Atlântico.. John, com sua ironia característica,
sugeriu que fizessem  o concerto num asilo de loucos. E, num dia
particularmente negro, perguntou por que não desfaziam o grupo
e iam para casa.

Enquanto não se decidia o local do concerto, os ensaios eram
documentados pelos cinegrafistas dirigidos por Lindsay Hogg. Como bem mostram os 80 minutos de "Let It Be", os Beatles
não se entendiam mais . Paul se tornou cada vez mais mandão,
explicando detalhadamente a cada um como tocar a sua parte.
Tudo isso ocorria diante das câmeras que não paravam de rodar.
George Harrison, depois de uma briga com Paul e outra com John,
foi embora dizendo: "Vejo vocês por aí..." George voltou no dia
15 e, depois de uma conferência de cinco horas com os outros, 
ficou decidido que seria abandonado o projeto de um show ao
vivo e eles se concentrariam num novo álbum.

Um milagre aconteceu em meio a confusão de 1969. O álbum
"Abbey Road", o último dos Beatles, tornou-se o seu recordista
de vendas: vendeu mais de cinco milhões de cópias no primeiro
ano, contra três milhões de "Sgt.Pepper". Os quatro Beatles 
estavam mais afastados do que nunca e qualquer  contato mais
próximo gerava atritos. Mas, no breve período de 1 de julho a 
25 de agosto, eles produziram o que muitos consideram sua
obra-prima: dezessete faixas do álbum que homenageia no 
título "Abbey Road", o estúdio onde eles gravaram todos os seus
álbuns, ao longo de quase sete anos, a partir de 11 de setembro
de 1962.

Todos os quatro Beatles brilharam em "Abbey Road": as composições e o trabalho vocal de John; o supremo artesanato
musical de Paul; a incrível técnica de George e duas canções
maravilhosas ("Here Comes The Sun" e "Something"); e o
excelente desempenho de Ringo na bateria.

A última canção do álbum, chamava-se "The End", a letra
curtíssima resumia o fim de tudo: "Oh yeah alright, are you
gonna be in my dreams tonight ?/And in the end, the love you
take is equal to the love you make." ("Oh, sim , tudo bem,você
vai estar em meus sonhos esta noite ?/ E no fim, o amor que
você leva é igual ao amor que você dá.").